O poder das cores é algo investigado e utilizado em diversos setores da cultura, do comércio e da indústria. A cromoterapia, por exemplo, se baseia no poder das ondas de luz que cada uma delas emite para tratar doenças, tanto físicas quanto mentais. Já na decoração, a sensação psíquica que as cores transmitem é utilizada para se adequar à função de cada ambiente.
E tanta força envolve essencialmente a relação das cores com a luz. É por isso que, por exemplo, sentimos mais calor com roupas pretas e menos com roupas brancas, porque a última reflete a luz mais efetivamente, o que faz com que ela absorva menos calor.
Com base nesses princípios físicos, cientistas estadunidenses desenvolveram a tinta ultrabranca, tão potente que é capaz de resfriar ambientes tanto quanto um bom aparelho de ar-condicionado split, por exemplo.
Além de se inspirar no conhecimento que se tem das propriedades das cores, eles também se embasaram em resultados de experiências empíricas como, por exemplo, o gesto de pintar o teto de prédios de tinta branca comum para que um edifício aqueça relativamente menos.
É pura ciência
A pesquisa de desenvolvimento da tinta ultrabranca foi realizada na Universidade Purdue, no estado de Indiana, nos Estados Unidos. Por lá, a ideia inicial era otimizar o que já se sabia sobre o uso da tinta branca na engenharia civil e na decoração, com um foco específico de chegar a uma reflexão ótima dos raios solares e potencialmente mesmo ser um componente de combate ao aquecimento global.
Além da experiência de pintar a cobertura de edifícios em grandes cidades de branco para amenizar o aquecimento do concreto da construção, os cientistas também consideraram o fato de que é bastante disseminado o truque de pintar paredes internas de branco como forma de dar a sensação de amplitude ao espaço.
Tudo isso tem a ver com o que dissemos no início com relação à reflexão da luz acontecer de maneira diferente quando em contato com superfícies de cores distintas.
Outro fato importante e que ajudou os cientistas a traçar uma meta clara para o desenvolvimento da tinta foi o entendimento de que as tintas brancas comuns, presentes hoje no mercado, absorvem entre 10% e 20% da luz branca que entra em contato com sua superfície.
Após diversos estudos e experimentos, conseguiu-se chegar, então, na tinta ultranbranca que absorve apenas incríveis 1,9% da luz, refletindo, desta forma, 98,1% da luz solar.
De mãos dadas com a química
Para chegar nesse resultado, os profissionais envolvidos no projeto investigaram praticamente todas as substâncias brancas existentes e à disposição até chegarem no uso ótimo do sulfato de bário, principal componente da tinta e responsável por sua coloração ultrabranca.
Em pronunciamento oficial, o pesquisador Xiangyu Li, atualmente candidato ao título de PhD pela mesma universidade onde a pesquisa está sendo desenvolvida, disse que o sulfato de bário permite que você deixe qualquer coisa mais branca e reflexiva, e essa descoberta foi a pontapé para que a pesquisa chegasse onde está agora.
Exatamente por esse poder de brancura, a substância é utilizada largamente em exames onde é necessário alto contraste para melhor análise, como a radiografia do aparelho digestivo.
Outra vantagem é que o sulfato de bário não é solúvel em água, e isso também foi considerado na pesquisa, uma vez que o principal objetivo é que a tinta possa ser comercializada para ser utilizada na pintura de ambientes externos, em contato direto com o sol e a chuva.
A pesquisa durou seis anos e a tinta está pronta. A promessa é que ela consiga resfriar até 4,5 °C das superfícies que cobrir.
O próximo passo, agora, é que a patente seja aceita pelo Escritório de Comercialização de tecnologia. Só depois disso é que ela poderá entrar na fase de testes para a comercialização direta ao consumidor regular.